As cruzes e a felicidade

As cruzes e a felicidade: o papel fundamental da aceitação do sofrimento
As cruzes e a felicidade

“Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo. 15,9-11).

Com essas consoladoras palavras, ditas aos apóstolos na véspera de sua Paixão, nosso Divino Redentor nos mostra o quanto deseja nossa felicidade. Para torná-la possível é que Ele mesmo morreu na cruz por nós.

A felicidade advinda da Cruz

Essa felicidade não é, certamente, a que o mundo promete. Aliás, que o mundo não consiga cumprir suas falaciosas promessas, as amargas experiências cotidianas o provam com abundância. Para desvendar essa incapacidade, instituições universitárias de renome vêm ofertando cursos especiais dedicados ao assunto.

O insucesso dessa empreitada, contudo, já se pode desde logo entrever. Pois a condição “se guardardes os meus mandamentos” é sistematicamente deixada de lado.

Com efeito, as regras que Deus nos impõe são garantias para atingirmos o grau de felicidade possível nesta terra de exílio. São como um corrimão em uma escada: ao mesmo tempo que servem de apoio no caminho ascendente para o céu, preservam-nos das quedas a que estamos sujeitos pela concupiscência.

Se a obediência a essas regras exige sacrifício – portanto, certo sofrimento – maior sofrimento traz a desobediência a elas.

Abandono da cruz = infelicidade

Um exemplo frisante nos é dado pelo insuspeito diário espanhol El País, em artigo publicado na seção ‘Negócios’ de sua versão on-line, com o título A economia do desamor.

O autor analisa, a partir de dados estatísticos da Europa e dos Estados Unidos, as consequências do divórcio na vida financeira dos cônjuges. “Romper o vínculo familiar supõe, para as classes médias, uma viagem rumo ao empobrecimento”, adianta já o subtítulo.

Se bem que não seja o aspecto mais importante a considerar no divórcio, é entretanto de grande relevância. Afinal, a propriedade é o esteio da família. E o caráter indissolúvel do matrimônio, como Nosso Salvador o instituiu, visa exatamente a garantir a estabilidade da célula mater da sociedade.

A busca da felicidade fora das sendas iluminadas pelo amor de Deus não poderia conduzir a precipício maior. Segundo o artigo, o divórcio “é um pedágio caro, pois quem passa por essa experiência perde, em média, 77% de seu patrimônio”.

Por isso, o autor o compara ao fenômeno astronômico do ‘buraco negro’: “o divórcio atrai e arruína o patrimônio com a mesma determinação com que essa geografia do espaço encarcera a luz e a matéria”.

Testemunho insuspeito

Após uma análise toda ela voltada para as estatísticas, preocupada com os números e esquecida dos aspectos principais do casamento, o leitor é surpreendido por uma insólita conclusão:

Longe da geografia dos números, o estado ideal de todo casal […] é habitar em uma carta. Aquela que há mais de cem anos Otto von Bismarck escreveu a sua mulher.

Naqueles dias, [as cartas] demoravam a chegar, ou não chegavam nunca. ‘Tenho medo de que te esqueças de mim’, anotou sua esposa.

O chanceler alemão respondeu: ‘Não me casei contigo porque te quisesse, casei-me contigo para querer-te’.

Oxalá que a vida de casal habitasse sempre nesse tempo e nesse verbo”.

O não menos insuspeito – porque anticatólico – Bismarck compreendeu melhor que os liberais modernos o modo de encontrar a felicidade no matrimônio. No fundo, sua resposta – “casei-me contigo para querer-te” – pressupunha a determinação de vencer os obstáculos que ele desde o início divisara.

Obstáculos que, em linguagem católica, chamamos de “cruzes”, os sacrifícios que a obediência aos mandamentos supõe – aos casados não menos que aos solteiros – sobretudo em um mundo paganizado, que rejeitou o jugo suave de Nosso Senhor.

Para atingir a “alegria perfeita”, a fórmula é clara: “perseverar no amor de Deus”, “guardando seus mandamentos”. Obviamente, com a assistência benfazeja da Graça divina, inesgotável para aqueles que a procuram.

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