NATAL: A ALEGRIA DOS INOCENTES

W. Gabriel da Silva

A celebração da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo é talvez a festa litúrgica mais popular na maioria dos países cristãos, embora, em si, a Páscoa da Ressurreição seja mais importante. Apesar da decadência do espírito religioso, a voz da graça continua, ainda nos dias de hoje, a convidar a humanidade a adorar Aquele que, sendo Deus, se fez homem para nos redimir.
Para um católico, naturalmente o ponto culminante da festa de Natal é a “Missa do Galo”, que, na liturgia tradicional, se celebra à meia-noite. Noite de gala para a qual todos se preparam com esmero: a liturgia usa os melhores paramentos, o coro prepara os mais belos cânticos, os assistentes colocam as suas melhores roupas, as donas-de-casa e as cozinheiras preparam os melhores pratos, os ambientes são decorados com carinho.
Mas a graça natalícia suscitou igualmente toda uma cultura própria: a ceia, São Nicolau, o presépio, a árvore de Natal, os presentes, os bolos e pães especiais para a ocasião, as guloseimas, as visitas, os contos, as feiras de Natal durante o Advento, os concertos musicais natalícios, os cânticos populares, as famílias que se reúnem… tudo isso faz parte de um universo encantador que agrada especialmente às crianças.

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As crianças, sim, porque representam a inocência, e a festa de Natal é a festa do Inocente por excelência, que foi o Cordeiro de Deus, capaz de restaurar todas as inocências perdidas.
O ambiente de Natal tinha então algo de maravilhoso, de evocativo de um mundo ideal: as luzes, as harmonias dos corais ou do órgão, as cores dos enfeites do pinheiro, os perfumes das flores, as comidas e bebidas servidas na ceia, os doces, os brinquedos… Mesmo nos lares mais simples e pobres, algo desse maravilhoso penetrava, pois na realidade ele depende mais de uma disposição de alma, de uma atitude interior, do que dos próprios objectos.
A criança tem a capacidade de maravilhar-se com as menores coisas: um pedaço de cabo de vassoura pode transformar-se no mais belo e ágil corcel… Não será por isso que Nosso Senhor disse: “Quem não receber o reino do céu como uma criancinha, não entrará nele” (Mc 10, 15)? Ou seja, a inocência de alma não deveria ser privilégio das crianças, mas deveria continuar a iluminar a mente madura do adulto.

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Embora qualquer cristão deva adorar a Deus em todas as suas manifestações terrenas, a psicologia dos povos revela que alguns são especialmente mais tocados por este ou aquele aspecto da vida de Nosso Senhor. Assim, o espanhol e o português votam particular devoção à Paixão de Cristo, embora com diferentes matizes. Outros encontram maior fonte de piedade ao contemplar a Páscoa da Ressurreição, como os povos eslavos. E há os “natalícios” por excelência, como são os povos germânicos.
A lembrança da Redenção está na origem da maioria das tradições de Natal, embora já comece a apagar-se da memória dos povos. É o caso da tradição da árvore de Natal, presente um pouco por toda parte, mas especialmente cultivada na Alsácia, região que pertenceu ao Sacro Império Romano-Germânico, e que hoje faz parte da França. “Onde há uma família alsaciana, lá está a árvore de Natal”, reza um ditado francês.
Qual é a simbologia do pinheiro de Natal?

Pelo menos na Alsácia, ele representa a árvore do paraíso. Por isso, penduram-se nele maçãs vermelhas para lembrar o fruto proibido que levou Eva e Adão ao pecado. Colocavam-se também botões de rosa de papel colorido, que significavam o amor de Deus pelos homens e a esperança destes numa nova vida. Depois, acrescentaram-se velas para lembrar o Lumen Christi, a luz de Cristo que veio iluminar as trevas do mundo pagão. Mais tarde foram-se juntando outros ornamentos menos simbólicos, como guirlandas, fios dourados ou prateados, e as bolas coloridas tomaram o lugar das maçãs. Ao pé da árvore colocam-se chocolates, guloseimas, presentes e cartões de Natal destinados aos membros da família.

Tudo isso produz uma verdadeira alegria, própria ao Natal, diferente da alegria da Páscoa. Marcada pela tragédia da Paixão e Morte de Cristo na Cruz, o júbilo pascal tem o sabor do triunfo do Filho de Deus sobre o mal e o pecado. A Natividade de Jesus, porém, produz alegrias suaves como a luz da estrela que guiou os sábios do Oriente (os “reis magos”), ou, melhor ainda, como os afagos sublimes com os quais Maria Santíssima envolveu o Menino Jesus. Suplicamos a Ela, Medianeira de todas as graças, que alcance de seu Divino Filho essa alegria de alma para todos os nossos leitores.

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