Ideologia de gênero: origens e objetivos

Ideologia de gênero: origens e objetivos. Conhecer para refutar.
Ideologia de gênero: origens e objetivos

Ideologia de gênero: quais as origens dessa insidiosa doutrina? E quais os seus objetivos?

Publicamos trechos substanciais de uma entrevista à escritora católica americana Dale O’Leary, especializada em temas relacionados à família.

A entrevista foi originalmente publicada em uma revista polonesa. A tradução se encontra no site da Diocese de Anápolis.

O tema é atualíssimo. Cabe às famílias católicas conhecê-lo bem, para poder rejeitar essa estratégia satânica contra a instituição da família.

– Quais foram os objetivos iniciais dos movimentos feministas no Ocidente?

Dale O’Leary – De modo geral, podemos dizer que na segunda metade do século XX as sociedades ocidentais lutavam para conciliar a igualdade entre o homem e a mulher respeitando as suas diferenças biológicas.

Nos anos 60, as mulheres protestavam contra as leis e os costumes, que faziam com que fossem tratadas de forma diferente dos homens. Em resposta a esses protestos, os governos dos países aprovaram leis, que garantiam às mulheres a igualdade.

As mulheres souberam tirar rápido proveito dessas leis. Aumentou o número das mulheres estudantes nas instituições de ensino superior, com capacidades profissionais e ocupando altos cargos governamentais.

– Por que, em certo momento, a luta pelos direitos iguais das mulheres se transformou em luta contra os homens e a família?

D.O. – Nos anos 70, ao movimento feminista juntaram-se os radicais. Eles consideravam as mulheres como protótipo da “classe oprimida”. E a família, com a “heterossexualidade obrigatória”, um instrumento de opressão.

Esse movimento filosófico teve origem em Friedrich Engels e na sua análise do surgimento da família. Em 1884, Engels escrevia:

“Na história, como primeiro antagonismo é preciso reconhecer o antagonismo entre o homem e a mulher no matrimônio monogâmico, e como principal opressão – a opressão da mulher pelo homem”.

Shulamith Firestone, em seu livro “The Dialectic of Sex” (Dialética do género), publicado em 1970, modificando a ideia da luta de classes, convoca à “revolução das classes do gênero” (sex-class revolution):

“Para eliminar as classes do gênero, a classe submissa (mulheres) deve revoltar-se e assumir o controle da reprodução…

Isto significa que o objetivo da revolução feminista não é somente a eliminação dos privilégios dos homens, que foi o objetivo do movimento feminista. Mas a eliminação das diferenças entre os sexos: estas diferenças não terão mais nenhuma importância”.

– Isto explica por que esse novo feminismo se posicionou não somente contra os homens, mas também contra a maternidade.

D.O. – Segundo Firestone, a essência da opressão da mulher é a maternidade e a educação dos filhos.

Os que apoiam essa posição veem, como condições necessárias para a libertação das mulheres:

  • o aborto desejado
  • a anticoncepção
  • a total liberdade sexual
  • o trabalho das mulheres fora de casa
  • e a permanência das crianças em creches, sustentadas pelo Estado.

Nancy Chodorow, no livro “The Reproduction of Mothering”, afirma que enquanto as mulheres cumprirem a função educativo-zeladora, as crianças vão crescer percebendo a humanidade dividida em duas classes desiguais. Esta seria a causa da tolerância da “opressão de classes”.

– Isto significa que as feministas radicais querem que as crianças vivam sem família?

D.O. – Sim. O novo feminismo quer eliminar a família biológica.

Alison Jagger, no livro usado nos cursos para as mulheres, mostra qual deveria ser o resultado desejado da revolução das classes de gênero: a eliminação da família biológica eliminará também a necessidade da opressão dos sexos.

O homossexualismo masculino e feminino, como também as relações sexuais extra-matrimoniais, não serão mais vistas na ótica liberal como opções alternativas…

A própria “instituição” da convivência sexual, onde a mulher e o homem exercem papéis diferentes, desaparecerá. A humanidade poderá, então, voltar à sua natural, multifacetada e perversa sexualidade.

– Como surgiu a ideia e a expressão “gender”?

D.O. – As pessoas que promoviam a revolução contra a família encontraram-se diante de um problema. Como eliminar as “classes dos sexos” (sex classes), as quais são condicionadas pelas diferenças biológicas entre a mulher e o homem?

A solução desse dilema foram as teses do Dr. Money, da Johns Hopkins University de Baltimore ( EUA).

Até os anos 50, a palavra “gender” era um termo gramatical e indicava se uma palavra é de gênero masculino, feminino ou neutro.

Dr. Money começou a usá-lo num novo contexto e introduziu o termo “gender identity” – a “identidade do gênero”, para indicar se uma pessoa se sente homem ou mulher.

Money achava que a identidade sexual – “gender identity” – depende do fato como a criança é educada, e, às vezes, é distinta da identidade biológica.

– De que modo as feministas aproveitaram as teorias do Dr. Money?

D.O. – Kate Millet, no seu livro de 1969, “Sexual Politics” (Política sexual), escrevia:

“Não existe diferença entre os sexos no momento do nascimento. A personalidade psicossexual é, portanto, algo apreendido depois do nascimento”.

Deste modo, a ideia de sexo (gênero) como uma criação social entrou nas teorias feministas.

A ideologia do gênero fez com que a prioridade do movimento feminista deixasse de ser a luta política, que discriminava as mulheres. E se tornasse uma luta para combater ideias que evidenciavam as diferenças entre a mulher e o homem e acentuavam o principal papel da mulher na esfera educativo-zeladora.

– As feministas recorriam frequentemente ao fórum das Nações Unidas para impor ao mundo as suas ideias radicais. Era assim também no caso da ideologia “gender”?

D.O. – Até 1990, nos documentos da ONU se acentuava a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres.

Entretanto, nos anos 90, o problema “gender” passou a ocupar a posição privilegiada.

Num folder da agência INSTRAW, da ONU, intitulado “Gender Concepts”, a ideia “gender” é definida como

“o sistema de papéis e relações entre mulher e homem, que não é determinado biologicamente, mas depende do contexto social, político e econômico. Assim como o sexo biológico é dado pela natureza, o gênero é um produto”.

O grande problema é que, às vezes, as pessoas que usam o termo “gender” não são conscientes das suas raízes ideológicas.

– Isto era perceptível durante algumas conferências mundiais da ONU, quando os delegados de vários países assinavam documentos, nos quais era recorrente o termo “gender”, sem saber o que ele significa exatamente e em que se diferencia do termo “sexo-gênero”.

D.O. – É verdade. Basta lembrar a Conferência Mundial da ONU dedicada à mulher, que aconteceu em Pequim, em 1995.

No texto final, “Platform for Action” (Plataforma da ação), se lê:

“Em muitos países, as diferenças entre realizações e ocupações dos homens e das mulheres continuam não sendo reconhecidas como consequências dos papeis de gênero criados pela sociedade, mas de imutáveis diferenças biológicas”.

– É evidente que a diferença dos papéis dos homens e das mulheres é consequência das naturais diferenças biológicas! O homem não pode engravidar, não pode amamentar a criança…

D.O. – É evidente que sim, mas da perspectiva da ideologia do gênero é inaceitável que a mulher possa escolher a maternidade como vocação primordial.

As palavras de Simone de Beauvoir atestam isso. Quando Betty Frieden perguntou a ela se as mulheres poderiam ter o direito de escolher ficar em casa e educar os filhos, a escritora respondeu:

“As mulheres não deveriam ter esta possibilidade de escolha, porque, se esta possibilidade existisse realmente, um número demasiado de mulheres recorreriam a tal direito”.

– São palavras muito significativas. Voltemos, ainda, à teoria do Dr. Money. Ela foi confirmada cientificamente?

D.O. – Quando a ideologia de gênero estava se tornando mais popular, as suas motivações teóricas se desfizeram. As teorias do Dr. Money foram desacreditadas pelas pesquisas científicas referentes ao desenvolvimento do cérebro.

Os exames pré-natais demonstraram que ainda antes de nascer os cérebros do menino e da menina se diferenciam significativamente; isto tem influência no modo diferente de percepção dos movimentos, cores e formas.

Isto causa, p. ex., que no menino haja uma “preparação biológica” para usar brinquedos masculinos, e nas meninas, os brinquedos femininos.

As mulheres, desde o ventre materno, são dotadas de uma particular sensibilidade com outras pessoas. Sensibilidade essa que é necessária no desempenho do papel de mãe.

– Para que serve isso, se algumas feministas não querem reconhecer o papel especial da mulher na sociedade e ignoram as pesquisas que confirmam isso?

D.O. – Isto é um grande problema.

Os cientistas que pesquisam as etapas iniciais do desenvolvimento da criança e do seu cérebro estão perplexos. Veem que a importância dos laços entre a mãe e a criança é ignorada por aqueles que gostariam de ver a mulher apenas como força de trabalho, e as crianças nas creches.

– A ideologia de gênero é partidária de uma nova definição do matrimônio, que incluiria também os casais do mesmo sexo. Nos últimos anos apareceram muitas publicações, nas quais se sugere que não existe nenhuma diferença significativa entre as crianças educadas pelos casais do mesmo sexo e os casais naturais. Os testes desse tipo merecem credibilidade?

D.O. – Aqueles que analisaram tais pesquisas consideraram-nas não válidas.

Segundo a professora Lynna Wardle,

“a maioria das pesquisas referentes à genitoriedade dos homossexuais apoia-se em documentação insuficiente do ponto de vista quantitativo, defeituosa quanto à metodologia e à análise (some of little more then anecdotal quality), e, em consequência, de fraca base empírica, para ser decisiva para uma política social”.

Por um lado, muitas pesquisas confirmam que a presença do pai e da mãe aumenta o bem-estar da criança.

Patric Fagan, da Heritage Foundation, recolheu uma grande quantidade de provas que evidenciam a importância de possuir um pai e uma mãe, que vivem juntos.

Por outro lado, “as crianças criadas pela mãe solteira ou pais separados são expostas ao maior risco de experiência da pobreza e dos abusos, problemas educacionais e sentimentais”.

O futuro da sociedade depende das crianças, por isso, colocar o bem das crianças acima de tudo é o nosso dever.

– Qual é a posição da Igreja em relação à ideologia de gênero?

D.O. – A Igreja Católica não pode ser indiferente quando, em nome do “bem” da mulher, o matrimônio, a família, a maternidade, a paternidade, a moral da vida sexual e as vidas não nascidas são agredidas.

A Igreja condena decididamente o tratamento abusivo das mulheres na família, mas a resposta aos maus-tratos não pode ser combater a família como tal!

Quando a sociedade encoraja a convivência sexual fora do matrimônio, o aborto, o divórcio e a mentalidade anticonceptiva, as primeiras vítimas são as mulheres.

A contínua luta das “classes de gênero” (sex-class strugle) não vai conduzir à autêntica libertação da mulher.

Uma antropologia errada, que nega as diferenças entre os sexos, deixa as mulheres numa situação nada invejável: ou procuram imitar o comportamento masculino, ou perdem energia para transformar os homens em “pseudomulheres”.

Grandes somas de dinheiro são gastas para lutar contra os naturais desejos da mulher de ser mãe. É óbvio que a ideologia de gênero conduz a um beco sem saída.

A solidariedade entre o marido e a esposa em família, entre o homem e a mulher na sociedade é necessária, para agir frutuosamente em prol de todos.

A mulher que tem consciência das diferenças de sexo é livre e pode colaborar com os homens, sem risco de perder a própria identidade.

O apoio ao matrimônio e à família, à paternidade e à maternidade não constitui, de modo algum, uma ameaça às leis, à dignidade e à fundamental igualdade das mulheres.

Contudo, é sempre necessária a proteção da mulher contra os abusos e a injustiça, a distinção entre os sexos e os humilhantes estereótipos, como também assegurar o direito das mulheres e dos homens à escolha de ocupações atípicas.

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